segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Bicicleta é um modo de transporte, sra. Waldvogel


Dias atrás, a jornalista e apresentadora Mônica Waldwogel foi protagonista de momentos profundamente lamentáveis, ao expor seu pensamento estulto e parvo sobre tema tão atual e importante como o uso da bicicleta. Formadora de opinião e funcionária da maior rede de comunicação brasileira, prestou um desserviço ao país. Contou jocosamente a âncora do programa Saia Justa que estava em reunião social e havia um “amigo querido se esforçando desesperadamente em convencer 15 pessoas que bicicleta era um meio de transporte ... (risos) ... o massacraram das mais diversas formas...o humor...a chacota...imaginando cenas dantescas...o que seria um bando de paulistanos andando de bicicleta...(risos). “É melhor um congestionamento dentro do meu carro do que em uma bicicleta chovendo em cima (sic)... o ladrão passando e levando o meu iPod... (risos). A insensatez continuou.

O grupo de mulheres vazias e desprovidas de intelectualidade arguta ironizou também os animais, desrespeitando grande número de pessoas, com sensibilidade mais evoluída, que a eles dedicam afeto, respeito e cuidados. Mas este tema não é o objeto deste artigo. Voltemos à questão da bicicleta.

Não sabem a sra. Waldvogel e colegas que para estimular a mobilidade alternativa e melhorar a qualidade ambiental de Nova York, o prefeito Michael Bloomberg implementou o 1º sistema público municipal de aluguel de bicicletas, com 10 mil bicicletas e 600 terminais, 24 horas/dia. Programas semelhantes foram implantados nas cidades americanas de Portland e Boulder.

Crianças pequeninas, em Amsterdam, são transportadas em cestas que algumas bicicletas possuem na parte frontal; quando crescem um pouco mais, são colocadas em cadeirinhas, atrás ou no “cano”. Com 3 anos essa gurizada faz jus a uma kinderfiets, e acompanham seus pais em suas bikes. O governo holandês investe e cria mecanismos de incentivo ao uso desse modo de transporte. As bicicletas nas ruas de Paris aumentam, desde 2007, quando a prefeitura inaugurou serviço de transporte público (Velib), diferente e ecológico, sendo comum o seu uso por senhoras, executivos e jovens, para ir ao trabalho, estudo e compras. O sistema de bicicletas públicas SAMBA-Solução Alternativa para a Mobilidade por Bicicletas de Aluguel, lançado, em 2009, pela prefeitura do Rio de Janeiro, tem 500 bicicletas, disponíveis em 50 estações. Programas de aluguel de bicicletas são utilizados em muitas cidades. O Bicing de Barcelona que, desde 2007, ajudou a reduzir em 24% as mortes na cidade e as emissões de CO2. Londres foi mais ousada e contabiliza ganhos financeiros auferidos pelo modo de transporte bicicleta, gerando R$8 bilhões para a economia britânica.


A importância da bicicleta pode ser medida pelo tamanho das redes cicloviárias municipais: Berlim (700 km), Nova York (675), Amsterdam (400), Paris (394), Bogotá (360), Copenhague (350), Rio de Janeiro (240), Curitiba (120) e São Paulo (40 km). A produção mundial de bicicletas, em 2008, foi de 130 milhões de unidades, enquanto que os automóveis ficaram em cerca de 50 milhões. Na Holanda, 25% das viagens urbanas são feitas por bicicleta, em Boulder; 21%, no Brasil, a média das maiores cidades está em torno de 3,2%. O Programa Ambiental da ONU, em 2011, publicou o relatório “Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza”, apontando os modos não motorizados (a pé e bicicleta) e os modos coletivos como solução para a sustentabilidade urbana e do planeta.

Apesar de tudo, os brasileiros ainda são muito preconceituosos em relação ao tema, evidenciado pelo despreparo e ignorância, neste assunto, da sra. Waldvogel e colegas. O Saia Justa, permissa vênia, se nivela ao BBB, que congrega “ilustres brasileiros” que contribuem na construção de um país mais moderno, humano, justo, civilizado, educado e culto.



O autor, Archimedes Azevedo Raia Jr., é engenheiro, mestre e doutor em Engenharia de Transportes pela USP, professor e pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Pós-graduação em Engenharia Urbana da UFSCar. E-mail: raiajr@ufscar.br.

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