RIO — O estudante Tomé de Almeida cultiva, em casa, os temperos que usa para cozinhar. Juliana Faria é uma pessoa praticamente obcecada com a reciclagem de lixo. E Mayara Rangel tira da tomada os aparelhos domésticos que não estão sendo utilizados, para economizar energia. Em comum entre eles, além da consciência ambiental, está o ano de seu nascimento. Os três vieram ao mundo em 1992, e cresceram ouvindo termos como sustentabilidade, mudanças climáticas e fontes de energia renováveis.
O engajamento deles, muito mais comum em sua geração do que nas anteriores, não está diretamente ligado à Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que aconteceu no Rio. Mas a preocupação ecológica ganhou importância nas duas últimas décadas e, a menos de dois meses da Conferência Rio+20, os hábitos de jovens de 20 anos como Tomé, Juliana e Mayara são uma prova disso.
Estudante de Engenharia Ambiental da UFRJ, Tomé de Almeida cultiva hortelã, salsa, pimenta, manjericão e couve, em canteiros feitos com garrafas PET na varanda do apartamento onde mora, com a avó, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. O rapaz mantém até uma criação de minhocas.
— Com o minhocário, já consigo reciclar 80% do meu lixo orgânico. Também me preocupo em não cozinhar mais comida do que consumo, porque o alimento cozido não serve para produzir adubo — explica Tomé, que aprendeu na internet a montar sua horta.
Professor de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da UFRJ, Haroldo Mattos de Lemos destaca que a bandeira verde está muito mais presente agora.
— Um aluno me contou que estava indo para Petrópolis com a família quando seu pai jogou um papel de biscoito pela janela do carro. Ouviu uma bronca do filho. Histórias assim são comuns hoje.
Conscientes, mas sem abrir mão dos gadgets
A safra Rio+20 virou gente assistindo a aulas de ecologia na escola, vendo filmes como “Uma verdade inconveniente” e acompanhando a enxurrada de notícias sobre a situação calamitosa da saúde do planeta. Tudo isso influenciou. Ao mesmo tempo, estamos falando de uma turma que consome avidamente tocadores de MP3, celulares de todos os tipos, tablets e vários outros gadgets que, cedo ou tarde, transformam-se num tipo de lixo bastante nocivo ao ambiente.
Juliana Faria, por exemplo, tem de tudo: iPod, iPhone, iPad... Mas ela sabe dos danos que isso causa à natureza e garante que só troca de telefone celular quando o aparelho que está usando se quebra. Mesmo assim, os telefones velhos estão guardados no armário, porque ela não sabe como se livrar deles seguindo as linhas do ecologicamente correto. A estudante de Comunicação Social da PUC-Rio, que fez intercâmbio na Suécia, critica a falta de informação e infraestrutura para o tratamento do lixo no Rio.
— Na Suécia, a prefeitura só recolhe o lixo orgânico. O reciclável tem que ser levado pelas famílias aos pontos de coleta. Lata, papel, plástico, vidro claro, vidro escuro... Aqui, não tem nada disso — explica Juliana, que pesquisa cooperativas de reciclagem para o lixo do prédio onde mora, no Jardim Botânico.
Mas ela reconhece que o consumismo é um dos “pecados” preferidos da sua geração. Num mundo repleto de grifes ditando ou seguindo o estilo da juventude, ninguém se importa, por exemplo, com o destino de uma peça de roupa depois de jogada fora. Mesmo sendo um exemplo de pessoa preocupada com o meio ambiente, a universitária Mayara Rangel não pensa nisso quando está numa loja.
— Não exagero nas compras para não gastar muito dinheiro, mas o esgotamento dos materiais naturais nem passa pela minha cabeça quando estou num shopping — admite a moradora do bairro de Sampaio, na Zona Norte, que estuda Geografia na PUC com bolsa integral.
Mesmo assim, Mayara é uma guerreira do meio ambiente. Foi ela quem incentivou o condomínio onde mora a implantar um sistema de coleta seletiva.
— Também espalhei cartazes alertando os moradores sobre a importância de se economizar energia e água — conta a carioca, que está ajudando a produzir dois fóruns da Rio+20 na PUC.
Mayara não vai de bicicleta para a faculdade porque mora longe de lá. Mas incentiva. Já Tomé de Almeida está sempre pedalando, assim como desliga a torneira durante a escovação dos dentes, economiza papel e, na rua, procura latas de lixo especiais da coleta seletiva. São pequenos hábitos, muito mais arraigados hoje, 20 anos depois da Rio-92.
— Essas coisas fazem diferença, mas falta um caminho longo até vivermos numa sociedade consciente — diz ele.
RIO
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